sábado, 31 de agosto de 2013

Paraquedas



      Amarelo é tudo o que eu consigo escutar quando lembro que ainda dá pra amar um dia. É tudo o que eu consigo ouvir quando percebo que eu quase te amei. Quase cheguei lá no meio do tons de piano, da rouquidão do Martins e do silêncio que se fazia entre a gente quando quase nos entregamos por completo. O zelo continua o mesmo, o que mudou foi a vontade de ficar. O que me importa é saber que ainda cuido de longe: na prece, no carinho ao escutar as faíscas do violão e da guitarra. Ainda danço em cima dos restos de nós dois, sei que um dia vai nascer qualquer coisa nova e bonita para mim, espiões podem sair da terra úmida e eu vou aprender a amar de novo. Entre os problemas e as aranhas, eu acabei aprendendo a controlar as minhas ânsias. Eu nunca quis machucar ninguém.
No fundo sabíamos da imutabilidade e da inanição que por fim perseguiriam nossos pequenos progressos. Não havia com o que se alimentar mais. Em um dia qualquer eu pularia de um precipício escarpado sem um paraquedas enquanto gritaria para não entrar em pânico. Imploraria uma ou duas vezes para que não enlouquecesse ou para que não se apaixonasse. Tudo não ia parecer nada além de uma tentativa patética de parar o inevitável. Não existe confiança em alta velocidade, só nossas cabeças explodindo e o arrepio enquanto se canta qualquer coisa sobre a eternidade.
Mas eu ainda tenho muito o que agradecer. Esperança ainda é uma palavra para se usar.

Najla Brandão