domingo, 25 de outubro de 2015

Quando o peito rasga e o nó fica




      Foi revendo algumas fotos antigas, de um ou dois anos atrás, que eu percebi uma mudança sutil no meu sorriso. Aquela dessincronia que existia entre os meus olhos e a boca - quando as ruguinhas não combinavam com a quantidade de dentes entre os meus lábios- desapareceu. Em algum momento eu aprendi de verdade a ser feliz. Por quanto tempo eu persegui essa paz de espírito?
      Não é coincidência que eu tenha evoluído aqui ou ali. Eu aprendi a me amar um pouquinho mais e, principalmente, a ter paciência com as minhas limitações sem procrastinar a necessidade de mudança e de transcender. Não é todo dia que é uma glória. Tem dia que eu não me suporto, que eu não caibo dentro de mim. Tem semanas que eu só consigo ser educada. Então eu escuto de um estranho que eu to resguardada por orações ou o cara do salão percebe meu sorriso triste e me lembro que empatia e compaixão não vivem só dentro de mim. Essa bagunça cósmica e aleatória consegue encontrar equilíbrio entre o que é bom e ruim.
      Hoje mesmo eu devo ter derrubado a minha própria barreira do bom-senso da convivência duas ou três vezes. Às vezes eu machuco sem ver. Não é por mal. É um dia ruim. A cabeça dói por pensar demais, me sinto culpada por não estar fazendo o suficiente o tempo todo. Eu não estou sendo boa o bastante. Eu não estou dando o melhor de mim. Respiro fundo. Relaxo os músculos da testa que me fazem franzir as sobrancelhas num ato de preocupação. Tomo o meu tempo para acertar as coisas. Se hoje eu coexisto bem com o mundo, a culpa é do meus passos lentos que, apesar de demorados, são longos. 
      Eu faço pequeninas preces aleatórias durante o meu dia, na esperança de que qualquer uma das entidades me escute. Deus, Universo, orixás, santos, espíritos bons e evoluídos. Não nego nenhum. Acolho todos na sorte de que me protejam e me guiem, na boa-fé de quem quer que seus amados sejam bem guardados por esse misticismo.
       E amo. Amo com uma intensidade absurda, receosa de quem pode se jogar e se perder. Daí eu vejo a paz e a bondade naqueles olhos de quem devora e admira sem saber porquê. O carinho de quem me procura na cama pra um abraço. O cuidado e a atenção de quem se preocupa com a minha fome. O acalento de quem não entende o pânico, mas compreende a angústia. A segurança, a certeza de que vai durar a vida inteira.
      Eu me sinto horrível por às vezes estar presa à essas minhas próprias gradezinhas, pequenices e não conseguir demonstrar a imensidão do que cabe no meu peito. Se tem algo que eu luto todos os dias é para isso. É para conseguir demonstrar a minha gratidão e felicidade em ter um pedaço do paraíso para mim todos os dias. Isso escapa quando a semana acaba e tenho que deixá-lo ir. Abraço forte. Quero congelar esses momentos e afagá-los. Não posso. É um exercício. Cada dia que passa eu me derreto um pouquinho mais. Demanda tempo, paciência. Até lá, não desista de mim, tá?
       Não deixa eu desistir de mim também. 

Najla Brandão