terça-feira, 12 de novembro de 2013



Sallie,

   Perdida em seus tormentos novamente, uma súbita necessidade de te escrever me vem. Justo eu que ando procurando incessantemente as palavras para tocá-las em papel, elas me vêm quando menos espero. Imagina só se a inspiração vem e estou sem papel ou caneta, sem qualquer coisa para anotar? Perdoe-me, estou divagando. A minha vontade é de intrometer nas suas introspectivas angústias para dar meu parecer. Começo falando sobre a poesia.
   Sallie, eu já encontrei muita gente nessa vida e poucas coisas pude perceber nesses meus verdes anos. Uma delas é que tem gente que nasce poeta e tem os mais belos sentimentos do mundo guardados no peito, mas nunca escreveram uma linha sequer e talvez nunca cheguem a escrever. Da mesma forma, já li muitos poetas que pouco sabiam conversar com a alma do outro que não fosse por palavras escritas e jogadas em papéis brancos. Também percebi que se nasce poeta, ninguém se transforma em um.
   Sobre a dúvida, deixo a minha crença: quanto mais se questiona a vida, mais aflições e agonias o espírito sofre. E mais belo ele é. Ser distraído é uma dádiva de felicidade, mas encontrar problemáticas para resolver em cada esquina também. Cada qual com sua beleza e sua tristeza. Confesso gostar dos tormentos, há certo masoquismo em sofrer para descobrir onde está a tão aclamada felicidade.
   Nestas dúvidas moram também os caminhos, depois de muito se pensar sobre qualquer coisa temos que decidir o que fazer com as nossas respostas. Até mesmo não fazer nada é escolher nesse jogo complicado da busca de "ser" ou "estar". A própria existência é uma escolha. E sobres os sonhos, creio que as melhores pessoas querem fazer a diferença numa vida ou em várias. Fazer rir também já basta para mim. Apesar de até hoje não ter achado mais o meu sentido por aqui do que você, minha filosofia é um pouco diferente. O cansaço me pega sempre por aí.
   A única coisa que almejo é ter todos os dias um motivo a mais para viver o inesperado dia de amanhã.
   Desculpa a singelez, eu só queria um diálogo.
   Com muito carinho,

Najla Brandão.