sexta-feira, 27 de setembro de 2013



Ei, deixa eu amar com você? Ou pelo menos por você? Tem tanta coisa bonita aí dentro, devia ser colocada pra fora junto com essa poesia que tá rabiscada em versos simples nesse sentimento tão lindo. Amor tem que passarinhar, não pode ficar preso. Canarinho canta na gaiola também, mas é um canto tão tristinho! Então deixa, bota pra fora, esbalda. Se você não quiser eu quero. Deixa que eu choro pra você, faço declarações, declamo poema, fico piegas e brega se tu não quiseres parecer assim tão ridículo. É que paixão deixa a gente meio bobo mesmo, mas eu tô louca pra sentir isso. Dói o coração de ver tanta gente sentindo muito e eu aqui com um cadiquinho de nada, o suficiente pra viver. O que eu não daria pra sentir friozinho na barriga, a cabeça flutuar e ficar rabiscando um nome qualquer no caderno? Desculpa o egoísmo, é que eu não gosto de desperdício. Vai, faz isso por mim dessa vez. Eu deixo você sentir dó de mim agora. Pode pensar assim: ah, que peninha. Deixa eu me entregar.
Deixa, vai.
Eu deixo.
Só não deixa acabar.

Najla Brandão

sábado, 21 de setembro de 2013

 


 Um suspiro e paciência, né? Não adianta esperar que esse sentimento passe. É aquele tipo de solidão estranha que parece não querer desgrudar. Passa o dia todo quietinha e se comportando muito bem, daí o silêncio se monta na casa e ela já sai gritando e fazendo danças esquisitas por perto. Convido ela pra sentar, pois há dias em que a gente se dá bem. É o tipo de solidão que não dá pra compartilhar com mais ninguém. Pega desprevenido, levanta questões, debate psicologia intrapessoal.
    "_E aí, doutor, é grave?
    _Temo que você sofra de um tipo raríssimo de esquizofrenia.
    _Ó. Isso tem cura?
    _Infelizmente não.
    _Vai doer?
    _Um pouquinho.
    _Sempre?
    _Sempre."
    Admito que me deprime um pouco essa excentricidade emocional. É um pouco complicado sentir a vida desse jeito extra-sensorial. Mãos, olhos, boca, ouvidos, nariz e arrepios não são suficiente. Nem mesmo o coração é uma maneira interessante de se sentir o mundo. É preciso mais. Sentir com o tato dos outros, ouvir com os ouvidos da alma, falar com a mudez das coisas. O que me entristece é que nasceram poucos nesse planetinha que sejam capazes de imaginar coisas exatamente onde elas existem.
    "_Eu me excito com praças.
    _Eu também.
    _As pessoas aqui não parecem perceber que são importantes para mim. Isso meio que me dá tesão.
    _Só assim para gostar do descaso.
    _Gosto do jeito que me sinto. Sozinha, mas completa e rodeada.
    _Se a solidão te acompanha não existe estar sozinho.
    _As vezes eu gosto de você.
    _Eu te amo o tempo todo."
    Tudo bem. Minha esquizofrenia extrapola alguns limites. Em meu mundo é comum conversar com sentimentos e sensações. Discutir relação com a solidão é rotina, principalmente em dias assim em que tudo parece quieto demais. A necessidade de bagunçar tudo e ter algo que revire tudo. Um sentimento que me rasgue por dentro, que queime todos os meus conceitos e que afague as minhas bobagens. Respira, vai. É madrugada. A compreensão de si talvez assuste. Mas eu tenho uma boa amiga. Ela disse que me ama.
    O tempo todo.
    Uma linda mesmo.

Najla Brandão