terça-feira, 1 de julho de 2014

Revolta dos Dândi

         


           Eu vejo o número do seu telefone na minha agenda e dá vontade de fazer algo muito besta. Dá vontade de ligar com DDD. Eu não tenho culpa se me perdi por um dândi no meio da poeira marrom. O meu maior crime é querer casar contigo e eu espero que me reprima por um ato tão repugnante. Você nem é mistério e me tira o sono toda noite. Eu te conheço por completo e sequer passei vinte quatro horas contigo. Dândis são assim: previsíveis e irresistíveis. Melhor que um dândi na minha cama, só sorvete de flocos em pleno verão. Pena que eu te segurei no frio. A sua pele estava mais branca que os nós dos meus dedos que apertavam suas costas num ato puramente carnal, no seu sorriso aberto poderia passar um trem todinho e me levar pras montanhas mais altas de Minas. Ou pra capital. Eu gosto da tua cidade, garoto.
         O que me preocupa é que vai passar. Eu queria que ficasse. Eu poderia te oferecer uma cerveja gelada, um futuro sem dinheiro e uma felicidade debaixo dos lençóis. Eu sou puro amor e eu poderia te ensinar os segredos que guardo debaixo dos meu cabelos. Eu vou te encontrar por aí qualquer dia desses e então nada vai ser como antes, dândi. Porque passa. Essa vontade passa, essa paixão passa e amanhã cedinho eu já peço divórcio. Eu não resisto às paixões de uma noite só. Divido cama, café, cafuné e uma carona pra qualquer lugar contigo. Eu espero te encontrar de novo para que você possa me dizer alguma coisa. É. Alguma coisa espontânea, que deu vontade na hora de falar. Algo como “vamos lá em casa?” ou “nossa, como foi bom te ver”. 
          Vou te confessar uma coisa. Eu gosto mesmo de roubar coração de dândis, é mais bonito, sabe? É difícil por serem tão simples e talvez seja isso o que torna tudo tão lindo. A culpa também pode ser das indecências que as covinhas no seu rosto guardam. Eu me perdi nelas e até hoje tô tentando me encontrar. Se tu achar me fala, tá?

Najla Brandão