quinta-feira, 19 de maio de 2016

Sonetinho




Esqueci como fazer poesia
Não sei mais escrever sobre seu sorriso
que é indecentemente lindo
Nem sobre o seu jeito de me olhar
que faz o meu mundo parar
Nem sobre seu abraço na cama
que tem o conforto de mil travesseiros quentinhos
Nem sobre sua pele nua
que encontra a minha carne crua
Nem sobre seu suor 
que faz solução salina com o meu
Insisto
Na necessidade de por pra fora
O pequeno universo que é te viver

Esqueci como fazer poesia
Pois vivo um soneto com você 

terça-feira, 8 de março de 2016

Deixa eu gostar de você

       


          Eu não te alcanço.
        Existe esse lugar sombrio, retorcido e superlotado de ideias fantasmagóricas que eu não tenho acesso. 'Cê tá lá e eu não posso entrar. Nesse clube secreto, eu não sei sequer o que ronda sua cabeça. Eu não sei se é seu lugar escuro que pode me contaminar de tristeza ou se é a minha melancolia que pode te adoecer ao mesclar às suas ideias. Eu não ganho nem a chance de saber isso. Enquanto isso eu me afogo.
        Não sei nadar nessa angústia. Invade meus pulmões a liquidez ansiosa de não ser útil. A incompetência, incapacidade e impotência me impedem de respirar. Eu afundo em um círculo de pensamentos viciosos, inúmeros "serás" e "e se?". Posso ver os metros de água que me engolem e seu olhar perdido em outra direção na superfície. Ciente de todo o meu mal-estar, estendendo a mão por estender. No fim é isso, eu não sei se você quer mergulhar. Eu te chamei pro mar, pro desafio das ondas sem saber do seu preparo físico. A correnteza te levou pra algum lugar que eu não conheço.
        Estou atada. Estou lhe dizendo todos os dias, todas as horas, tudo o que eu sinto e penso na esperança de que me devolva algo. Raros os momentos em que ganho um lampejo. Eu não tenho utilidade. Eu não sou seu ombro amigo, sua confidente, seu porto seguro, seu colo. Eu estou mais para um abajur bonito com mal contato. Detesto essa posição, pois ela me dá nós e voltas que eu não sei lidar. Eu preciso de objetividade. Eu preciso saber nos mínimos detalhes o que acontece. Tenho essa dificuldade imensa de interpretar sinais, então não posso fazer isso de descriptografar cada expressão sua. Eu não sei o que te oferecer por você não demandar diretamente nada. Essa lacuna, esse vazio, essa falta de algo na sua vida não é discutido. É jogado nas caixas empoeiradas do fundo do armário. É seu jeito, mas e o que é nosso? Como fica? Me ajuda, denguinho. Me ajuda a te ajudar. Pega na minha mão quando eu te estender ela. Fala com o coração quando eu perguntar do seu dia. Diz pra mim o que eu represento pra você e deixa eu ser mais na sua vida. Esse espaço que você tem me dado não é o suficiente. Eu me importo muito. Quero cuidar de você também, mas você precisa deixar eu fazer isso. Amar é abrir todas as suas portas e janelas e permitir o outro entrar.
        É isso. Enquanto eu não estiver aí, força. Não se esqueça nem por um minuto que eu te amo. E não é pouco.

sábado, 13 de fevereiro de 2016

Limbo


lim·bo 1
(latim limbus-iorladebrumcinto)
substantivo masculino
1. Orlabordafímbria.
2. [Astronomia Borda visível do globo de um astro eclipsado.
3. [Religião católica Lugar onde os justos esperavam a vinda de Jesuse para ondesegundo a iam as almas das crianças não .batizadas.
4. [Informal]  Lugar onde se lançam coisas de que não se faz caso.
5. [Informal]  Estado de indefinição ou incerteza.

(Dicionário Priberam de Língua Portuguesa)




     Eu perdi a fineza da vida em algum momento. Acredito que isso faz parte de algum processo coagulatório. Os ralados que ardiam no banho se tornaram cascas grossas que quando pressionadas apenas te lembram do ocorrido com algum puxão nervoso. É insosso. Não existe aquele momento gracioso pós-derrota, em que percebemos a importância de rir para o sol, para a calçada, para o vizinho. Tampouco estou entreguerras comigo mesma para me rebelar e bradar ao mundo minhas indignações. É calmo. É tranquilo. E não é feliz.
     Para dar nome aos bois, seria fácil chamar isso de tédio. Mas é muito mais que uma inquietude por não haver nada para fazer. É o não haver nada para sentir. Acostumei com as doses de alegrias constantes e com as dúvidas permanentes e portanto não tenho mais nada de novo para lhes contar. Não posso desmiuçar o mendigo Daniel dos Santos, caçula de nove irmãos, que roubava celulares e usa drogas. Não posso falar dos elefantes que incomodam o senhor bêbado em cima da estátua de cavalo. Foram momentâneos e passageiros. Para hoje não resta mais nada para contar. 
     O meu cérebro pode estar mais quebrado que o normal. Isso é uma possibilidade que não pude descartar. Explicaria as enxaquecas quase diárias. A permanente sensação de impotência, vazio e desânimo. A dose extra de carência. O não querer ficar e o não querer ir embora. O não saber. Um segundo neurologista poderia me oferecer mais respostas. Um psiquiatra. Um clínico geral. Um psicólogo que não fosse anti-ético o suficiente para dividir com o meu ex-namorado parte das minhas sessões. Honestamente? Falta força no braço para ir atrás de qualquer coisa. O propósito de sentir se perdeu num limbo por aí e não acho que qualquer tipo de ressonância magnética ou tomografia computadorizada poderia diagnosticar isso. Cansa-me só de pensar em testar medicações, porque meu corpo não merece ser judiado com as insistências de cura para o que não tem conserto.
     Não me leve a mal. Eu não estou assim tão deprimida. É que aqui é morno. Apesar de ser confortável, não é bom. O período entre o céu e o inferno é terrível. Nada é definido direito. Dessa quadragésima nona tentativa de escrever, eu deixo essa pra ficar. Não por ser boa. Não por ser ruim. Por ser morna. Ninguém fala sobre o morno e o morno deve ser escrito. Para que se evite todo tipo de mais ou menos por aí.