domingo, 25 de maio de 2014




       João,

Desde que a minha ausência se fez presente na sua sala de estar, eu estou tendo problemas para sentar em outros sofás para discutir a minha vida. Como você mesmo poderia prever, eu voltei. Os desencontros que a minha alma arranja são inevitáveis. Apesar do choro que me acometeu na noite passada, das lágrimas incessantes que rolavam pelo meu rosto quando me desesperei ao me encontrar sozinha no meio da multidão, eu venho contar-lhe do que tomou o meu peito em frente às luzes.
Eu tenho uma relação complicada com o que é inalcançável e que parece, por tantas vezes, estar próximo demais. Eu quero tocar as luzes, as vozes que cantavam para o mundo de poeira enquanto algo em mim parecia se quebrar para libertar o sentimento de paz mais sincero que já tive. João, eu estava encarando o meu futuro, eu poderia dizer com toda a certeza que aquilo ali era o que o mundo guardava para mim. O inacreditável, o fantástico, algo maior que faria a minha vida toda estabelecer uma conexão com cada coisa viva e repleta de emoções. Estou falando das coisas que nos despertam a sensação de agradecimento mais profunda, que fazem os olhos brilharem e o coração explodir de felicidade. Uma música, uma voz, uma pessoa que te ajuda sem saber que está ajudando.
Sabe, eu sei que preciso encontrar alguma coisa, que eu preciso fazer algo e vai ser grande, difícil, complicado e vai por à prova todas as minhas crenças sobre amor, esperança, carma e tudo o mais. Mas quando eu fizer isso, as coisas vão mudar e eu vou entender toda a minha vida. Eu não sei o que eu preciso fazer ou encontrar, a coisa que sei é que eu estou no caminho certo e que toda vez que eu me vejo com as mãos quase tocando o inalcançável, meu coração bate mais forte, as minhas pupilas se dilatam e eu entendo. Eu entendo que faço parte de algo muito maior e que essa minha contribuição é grande, incrível e cheia de mudanças.
João, eu nunca estive tão perto de te tomar o emprego e salvar uma alma.
Nunca estive tão perto de ser salva.
Nunca estive tão absurdamente próxima de ser tudo o que eu tenho a capacidade de ser.

Obrigada por tudo, Jão. Por ter sido quem me salvava todas as vezes, inclusive as que eu pensava que não precisava disso. Com muito amor de sua amiga mais querida,

Najla Brandão.