sexta-feira, 13 de abril de 2018

Apelo aos desbravadores de corações

   Eu não sou o que você procura.
   Eu sou um acidente de percurso numa quinta-feira embriagada onde aconteceu-me de me fazer acontecer pra você. Sou um desalinho que levanto de mansinho pra não te acordar. Não fico pro café. Não faço cafuné. Isso é parte de uma história que não foi contada e que ninguém vai comentar. Um segredinho entre nós. De novo.
   Eu sou o que você precisa, mas não o que você procura. Não vou te causar anseios, mas posso aliviar sua culpa por não amar mais quem tanto te levou aos paraísos da Terra. Posso te dar uma, duas, três horas de distração, mas não fico pra vida toda. Mesmo sabendo que eu poderia. Eu me encaixo em qualquer lugar. Eu caibo em qualquer canto. Eu sou um prêt-a-porter, mas não sou feita à medida, costurada à mão com cuidado. Eu sou um genérico barato da sua melhor experiência na vida.
   Admito minha culpa, eu não mostro o melhor de mim. Eu mostro uma maçaroca generalizada de mim mesma. Um pedaço vulgar. Isso não é apelativo e nem é a intenção ser. Eu não causo mistério, não te convido pra entrar e conhecer tudo que sou. Eu sequer faço jogo de sedução ou coisa do tipo. Simplesmente me deixo levar por situações divertidas. E na manhã vou embora ou te levo na porta e é isso. Eu sou uma experiência barata.
   Repito: eu poderia ser muito mais, eu poderia dar muito mais. Recuo. Fecho as portas. Passo os trincos. Pra lá do meu pescoço e das linhas grossas do meu corpo é zona de conflito, requer mais que vontade. Para aventurar em terras pouco exploradas é preciso muito mais do que seus apelos de beijos e delícias. Uma sinergia surreal.
   É aí que fujo. Não bate a onda. Não dá grau. Eu fui mais uma, você foi mais um. Poderia ser mais. E o interesse em bandeirar por essas matas quase virgens?

Desbravadores,
decifra-me
ou eu não
te devoro.

Najla Brandão