sábado, 13 de fevereiro de 2016

Limbo


lim·bo 1
(latim limbus-iorladebrumcinto)
substantivo masculino
1. Orlabordafímbria.
2. [Astronomia Borda visível do globo de um astro eclipsado.
3. [Religião católica Lugar onde os justos esperavam a vinda de Jesuse para ondesegundo a iam as almas das crianças não .batizadas.
4. [Informal]  Lugar onde se lançam coisas de que não se faz caso.
5. [Informal]  Estado de indefinição ou incerteza.

(Dicionário Priberam de Língua Portuguesa)




     Eu perdi a fineza da vida em algum momento. Acredito que isso faz parte de algum processo coagulatório. Os ralados que ardiam no banho se tornaram cascas grossas que quando pressionadas apenas te lembram do ocorrido com algum puxão nervoso. É insosso. Não existe aquele momento gracioso pós-derrota, em que percebemos a importância de rir para o sol, para a calçada, para o vizinho. Tampouco estou entreguerras comigo mesma para me rebelar e bradar ao mundo minhas indignações. É calmo. É tranquilo. E não é feliz.
     Para dar nome aos bois, seria fácil chamar isso de tédio. Mas é muito mais que uma inquietude por não haver nada para fazer. É o não haver nada para sentir. Acostumei com as doses de alegrias constantes e com as dúvidas permanentes e portanto não tenho mais nada de novo para lhes contar. Não posso desmiuçar o mendigo Daniel dos Santos, caçula de nove irmãos, que roubava celulares e usa drogas. Não posso falar dos elefantes que incomodam o senhor bêbado em cima da estátua de cavalo. Foram momentâneos e passageiros. Para hoje não resta mais nada para contar. 
     O meu cérebro pode estar mais quebrado que o normal. Isso é uma possibilidade que não pude descartar. Explicaria as enxaquecas quase diárias. A permanente sensação de impotência, vazio e desânimo. A dose extra de carência. O não querer ficar e o não querer ir embora. O não saber. Um segundo neurologista poderia me oferecer mais respostas. Um psiquiatra. Um clínico geral. Um psicólogo que não fosse anti-ético o suficiente para dividir com o meu ex-namorado parte das minhas sessões. Honestamente? Falta força no braço para ir atrás de qualquer coisa. O propósito de sentir se perdeu num limbo por aí e não acho que qualquer tipo de ressonância magnética ou tomografia computadorizada poderia diagnosticar isso. Cansa-me só de pensar em testar medicações, porque meu corpo não merece ser judiado com as insistências de cura para o que não tem conserto.
     Não me leve a mal. Eu não estou assim tão deprimida. É que aqui é morno. Apesar de ser confortável, não é bom. O período entre o céu e o inferno é terrível. Nada é definido direito. Dessa quadragésima nona tentativa de escrever, eu deixo essa pra ficar. Não por ser boa. Não por ser ruim. Por ser morna. Ninguém fala sobre o morno e o morno deve ser escrito. Para que se evite todo tipo de mais ou menos por aí.